quinta-feira, 28 de novembro de 2019

às vezes

às vezes me bate uma sensação de: e agora?
e caio num vazio sem esperança.
isso foi comum por quase toda minha vida.
eu apenas sinto. e sei que algo vai mudar. sempre muda.
observar o vazio. não se entregar ao medo ou ao desespero.
por estar aqui há tanto tempo, e de conhecer essa sensação tão bem, ela se tornou uma amiga íntima. a ouço. 
e sei que a vida, em seus mistérios, abrirá suas portas e me mostrará caminhos.
paciência é algo que sempre achava impossível de ter.
paciência é algo que anda junto com sabedoria.
mas, tb sei, que os momentos de incerteza são pontes no nada. 
às vezes isso se aprofunda, e é o momento de partir de novo.
sempre soube de onde saía mas nunca sabia onde ia chegar.
vejo os sinais mas de dentro ouço: paciência.
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Make Your Own Kind of Music

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

sobre a minha arte

Amores, parem de dizer que eu não chamo vcs pra trabalhar em espaços de arte. Eu não sou sou curadora, nem dona de galeria, nem trabalho em instituição de arte. E, tb, eu não tenho a obrigação de fazê-lo. Se querem estar em espaços como eu estou, além de ter tido as oportunidades e privilégios que eu tive/tenho, sigam os meus passos:

1 - trabalhe por 24 anos no palco e só no 25º ano tenha dinheiro pra pagar suas contas só com arte (10 anos aprendendo técnicas corporais nos teatros, danças, circos, ruas, capoeiras etc., nas artes visuais: fotografia, vídeo, colagem, arte postal, web design etc., escritas e poesias etc. e depois mais 14 anos desenvolvendo seus próprios trabalhos).

2 - estude em 5 universidades diferentes (6 anos em ciências sociais, 2 anos em artes cênicas e 4 anos em artes visuais e saia dessas duas últimas sem o certificado de conclusão).

3 - se jogue do Brasil pra Alemanha falando apenas português, com recursos limitados, após ter deixado tudo pra trás, e com nada garantido no país novo (sem trabalho, sem visto, sem amor, mas com amigues).

4 - crie um trabalho como Solange, tô aberta!, que afetou e afetuou toda uma galerona (e que após 13 anos de existência não tem sequer um EP ou vídeo-clipe).

5 - trabalhe muito sem receber (inclusive fazendo a primeira exposição na rua ou esperando que seu trabalho de pesquisa de 4 anos com drag queens e fotografia seja exposto pela primeira vez num espaço de arte após 15 anos). 

6 - faça suas mensagens, artes e poesias em zine e saia vendendo por 1 real.

7 - pare de fazer coisas que vc ama como beber, usar coisinhas pra ficar bacana, ir toda noite de festa etc. e foque: trabalhe, pesquise, escreva, crie, conheça, descanse, cuide de si.

8 - faça cursos de como enquadrar projetos nas leis municipais, estaduais e federais, e se inscreva em tudo que aparecer e não seja aprovade em quase nada. 

9 - pare de reclamar e crie, por mais loloki que pareça. faça seu trabalho circular. se mostre. crie sua identidade enquanto artista.   

10 - Seja loloki, mas seja generose, afetuose, carinhose e entenda que as pessoas são os bens mais valiosos. Saia da energia da treta. Isso fode vc e nós que estamos ralando duro pra abrir os caminhos pra nós e pra vcs. Nós não podemos ser o alvo de nós mesmes.

11 - e, o mais importante, trabalhe a si mesme. Trabalhe duro, mesmo, todos os dias. No auto-conhecimento, na espiritualidade, na experiência de vida, nos auto-boicotes, nas resiliências, pra não reproduzir sistemas coloniais e necropolíticos. 

Eu entendi que o mundo não foi feito pra mim. Eu entendi que eu sou o fracasso do sistema. Eu entendi que o que eu estou fazendo por mim é algo da esfera do impossível. Entenda que eu nunca estarei só. E, finalmente, entenda que esse caminho só eu posso trilhar da minha forma. Assuma a sua missão e me deixe seguir a minha. E, talvez, a gente se encontre em nossos caminhos.

15.10.19

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

4.0

amores, chegou muita coisa com os 4.0 mas tb chegou uma vontade enorme de ser egoísta, após muita reflexão que parte desse sistema chamado Pêdra. e isso não é uma coisa negativa. apenas entendam coisas básicas. uma delas é: nesse momento, eu preciso do meu tempo. eu não cheguei na cena hj. sou pré-histórica: pré-internética, pré-celulética, pré-a-maioria-dos-grupos-e-iniciativas-lgbtqia+, pré-queer, pré-textão, pré-descoberta-sobre-as-violências-no-brasil-e-o-medo-da-volta-da-ditadura, to cansada e ainda luto com muito esforço pra pagar minhas contas com dignidade. entenda que eu dei muito. muito mesmo. sempre deixei de fazer minhas coisas pra fazer as coisas pro meu povo. meus traumas eram menos importantes do que de todxs. vejo/penso/sinto tudo isso como coisas urgentes em que meu bem-estar e meu caminho podiam esperar. agora não mais como antes. agora é tempo de receber. inclusive com a nova geração ocupando muito mais espaços y aqüeres e com muito mais chances, caminhos e energia do que eu (sem culpas, que não sou católica. apenas uma observação do peso do tempo e do trabalho que tb sou responsável por abrir os caminhos). sou uma mama, com uma house gigante. pergunte às filhxs. elas são poderosas. quer imigrar, me pergunte, mas só depois que vc pesquisou e escreveu pras organizações. elas recebem pra isso. eu não. se vc tem tempo pra publicar nas suas redes sociais, vc tem tempo pra pesquisar e escrever e-mails. é emergência, é urgente? me escreva sem pestanejar! é sua sensação interna de urgência? lide com ela, pois o tempo do mundo das burocracias é super lento. transforme em potência de vida, de arte e se proteja, se cuide. potência sem foco, sem pesquisa, sem base, sem experiência, pode ser apenas mais do mesmo. e mais do mesmo o mundo tá cheio. mas, não deixe de fazer. é com a experiência que vc vai sacar o bafo. não me envie 50 vídeos de 30min. cada pra ver todos e dar um feedback. não sou júri de festival e não recebo pra isso. não me pergunte o que é cada conceito que eu falo. vá pesquisar. não recebo como professora. precisa de uma casa pra ficar? não me pergunte. to morando numa casa pequena e to sem espaço interno pra compartilhar isso com mais alguém que não seja super íntima e mesmo assim por poucos dias. se for algo urgente, faça de tudo pra que essa coisa não se torne urgente. mas me pergunte se precisar de casa, pessoalmente. eu responderei no meu tempo, e colocarei em contato com pessoas que tenham quartos/espaços para receber visitas. e cuide bem do espaço que tá te recebendo. atuamos em comunidade, com diferentes graus de precariedade. respeite isso. eu sou uma pessoa sensível e empática. ou seja, eu sinto muito mas da minha forma. não me chame de dramática. e tampouco vítima. se eu sumo um pouco da sua vida, ou é pq eu to sem tempo, ou to precisando me cuidar e descansar, ou cansada de não haver troca. bad vibes na minha direção: economize sua energia. eu sou protegida. tenho olhos, bocas e ouvidos pelas encruzas dos mundos. e, além de tudo, tenho tentado fazer algo bacana com as merdas que fizeram comigo. não interrompa o fluxo. respeite isso. quer o meu trabalho de arte? tem aqüe? é amiga? é pra comunidade? fale tudo no primeiro contato e não me faça preencher kilômetros de papéis burocráticos e/ou supor que eu tenha inscrições municipais, estaduais, federais, mundiais de tudo que vc precisa pra mostrar uma foto 3x4. se sim, pague por esse trabalho ou já me entregue tudo pronto só pra assinar, e me dê tempo. tenho lidado com questões de saúde, espiritualidade, mundo material, lutos, reorientando faltas e violências, e ainda tentando ser bunyta, num inverno que chegou e que eu não tenho mais paciência pra ele. tá vendo que eu to bombando no mundo da arte? ótimo. celebre comigo e, se precisar de help, se ajude primeiro, me ajude a te ajudar, me pergunte antes e aproveite o tempo em que estivermos juntxs. não tenho uma lista de residências de arte pelo mundo. não sou um blog. antes de mais nada, me pergunte se eu posso e/ou tenho tempo pra ajudar algumx amigx. tenho 24 anos de palco, 8 anos de europa, e to estudando na quinta universidade. ainda sinto que fiz e faço pouco e que tudo isso ainda não reflete financeiramente todo o esforço que já coloquei nessa área. tenho meus pontos fracos e dificuldades, que são enormes. além de tudo isso, tenho minhas utopias e, uma delas, é que todas as comunidades possam estar fortalecidas, compartilhando saberes, gozando formas de ser e acessando aqüeres e formas de viver com um mínimo de conforto. e isso é urgente. o mundo como tá constituído, não vai nos dar isso sem luta. então, lute juntx. e, antes de mais nada, perca a ilusão: o mundo não é feito para a maioria de nós. 

terça-feira, 8 de maio de 2018

...

existe um vazio, preenchido de natureza, dentro. 
existe uma natureza, preenchido de vazio, fora.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

não sente isso?

nossas famílias são grandes. podemos ser irmãs, irmãos, primas, primos e não sabemos. 
nossas histórias são cruzadas. nos perdemos a muito tempo atrás. 
vivemos fugindo, escapando, movendo-se.
não sente isso?
fomos retirades de nossos lugares.
aprendemos a não parar. a sair em fuga.
a enfrentar. e dar conta.
temos uma força que não podemos ver a grandeza dela.
somos les sobreviventes de um caos.
mesmo ainda estando nele.
e não caímos fácil.
somos frágeis. frágeis fortes.
sempre fomos.
vamos bailando entre os truques.
descobrindo formas.
abrindo caminhos.
sim, vamos na frente.
abre ala.
abrindo para fechar.
construímos nossos remendos na pele.
mas, mais do que na pele, somos uma grande costura.
esse conhecimento e visão é muito antiga.
costuradas por dentro, na história, nessa rede que quebra o tempo e espaço. e viaja neles.
aprendemos a tocar tambor e chocalhos, a cantar e a dançar para relembrar, fortalecer, festejar, curar.
resistir aos que nos queriam separados.
nos abraçamos para nos reconhecer, para agradecer as nossas existências, para nos sentir.
vamos seguindo, às vezes gritando, às vezes em silêncio.
mas vemos tudo. muites de nós sentimos muito.
muites de nós conversamos muito.
vemos o invisível.
vemos os jogos. e aceitamos.
mas é porque já estamos em outro caminho.
o que nos interessa são nossas ancestralidades cruzadas.
nos amamos. e tb deixamos nosses continuar suas trajetórias. 
sentimos falta. não pertencemos. 
passamos por vários portões. atravessamos muitas encruzilhadas.
nos encontramos. e cada ume nos atravessa.
nunca estivemos em momento de trégua.
mas temos a experiência da sagacidade.
aprendemos. 

segunda-feira, 31 de julho de 2017

o silêncio

o medo se instaurou em meu corpo. ele é bem antigo.

com uma outra forma de entender o mundo, perdi as referências, vivi as ansiedades do risco de morte, a tristeza das mortes, e a violência ao cruzar as binaridades de gênero. nada disso tinha esses nomes, mas tinha esses impactos. nada disso tinha essas compreensões. que eu saiba, e eu me lembre, isso foi dos 7 meses na barriga de mami ao 2 anos de idade. tudo que eu faço, vem de mim e de minhas lutas. o que eu não faço, vem da ansiedade. vendo, agora, de outra forma. após relaxar, ela se mostrou. mas agora é algo maduro, ao olhar. o que não significa que ela mudou, mas que ela pôde confiar em mim. a sensibilidade, o confiar no invisível, entender e passear por mundos outros… é onde me realizei por muito tempo. foi por onde andei. a violência material foi demasiada pra sensibilidade tão aflorada. fechei os olhos, os ouvidos. lá, não me tocavam. os choros não expurgavam, os gritos não expurgavam. não havia carinho, não havia proteção. havia a sobrevivência. que tb não tinha esse nome e essa compreensão. a família era aquela que cuidava de mim no silêncio, no invisível.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

atual

t e x t u a l 
 s e x u a l 
   EXU atual